Quando penso na Grécia me remeto diretamente a este período (Séc. V — IV a.C.), momento marcado pela ascensão do mundo grego, grandes nomes surgem como Sólon, Sócrates, Heródoto entre outros pensadores lembrados até os dias atuais. A era clássica grega tem o “glamour” da racionalização grega, onde vemos o despertar da filosofia e da arte em seu esplendor, período de muita misticidade somada com a razão Apolínea do homem. As grandes cidades como Atenas, Corinto, Tebas, Delfos e entre outras chegam no ápice, conhecimentos estudados até hoje nascem neste período, o despertar das ciências, a medicina, a física, a própria filosofia auxiliou nestes marcos. Para podermos compreender melhor a era de ouro grega precisamos aprofundar nosso olhar a própria sociedade em si, permitam-se a olharmos para o passado e observarmos as ancestralidades que nos cercam até o nosso contemporâneo.
DAS CIDADES-ESTADOS GREGAS: PÓLIS
As cidades gregas (pólis como são chamadas) possui uma característica muito especial que as diferenciam de megalópoles em dias atuais, elas eram autoadministradas. Com a inexistência de um poder central que unifica cada uma delas, estas cidades possuíam seu próprio regime de leis e costumes, carregavam seus próprios problemas e, por muitas vezes, disputavam umas com as outras por poder comercial, cultural, religioso e militar. Porém, por compartilharem da mesma cultura e costumes, todas as pólis gregas possuíam características em comum, como as formas de arquitetura em colunas de mármore, as estátuas e templos para os deuses, mas há algo em específico que predomina nelas todas e sem este local não poderíamos definir uma pólis grega como completa. A acrópole.
As acrópoles eram o ponto mais alto de uma pólis, devida a geografia da região grega ser definida em montanhas, montes, planaltos e afins. Por conta de sua posição em destaque, era atribuída ao local as estruturas mais importantes da cidade, os templos, as ágoras e os anfiteatros que levavam os seus cidadãos a passarem a maior parte de sua vida pública por lá. Os Templos gregos, como o grande templo de Apolo em Delfos, não possuíam a mesma compreensão de uma igreja ou capela católica, apenas cidadãos autorizados a função religiosa teria a permissão de adentrá-lo. Porém, caso caminhasse por entre a faixada de colunas e escadarias de mármore, com certeza avistaria cerâmicas com bebidas e frutas para ofertar aos deuses. Festas religiosas, lendas e misticismos eram comuns no dia a dia daquelas pessoas, para um grego, um homem se autodeclarar descendente de um herói mitológico como Aquiles, era natural e tinha grande peso social entre eles, grande parte da aristocracia utilizava-se deste misticismo para garantir tal hierarquia. Isso não quer dizer que a grande maioria o fazia com malícia, pelo contrário, a crença era verdadeira e pura em seus corações. Aristocratas atenienses acreditavam serem filhos de Teseu, como os espartanos com Héracles (Hércules). Como mencionei, tais verdades tinham poder social político e desta forma muito era debatido em outro lugar, nas ágoras gregas, que nada mais eram do que praças públicas onde se discutia politicamente o futuro de suas cidades, aristocratas e pensadores utilizavam-se das ágoras para definirem leis, planos econômicos e entre outros problemas que uma cidade necessitaria de soluções. Os ensinamentos educativos aos jovens também eram trabalhados nestes locais, Sócrates, por exemplo, utilizava-se das ágoras para ensinar aos outros a arte do pensar e questionar, sendo o primeiro a querer ver o mundo pelos próprios olhos e não pelos olhos dos deuses, mesmo sendo alguém imbuído da misticidade da época. Grandes políticas e conceitos legislativos foram desenvolvidos nestes locais também, a ideia da democracia nasce no berço da ágora ateniense. Podemos então resumir estas praças públicas como o berço das trocas de conhecimento público, local de extrema importância para a pólis onde o futuro de toda a sociedade era discutido e determinado pelos que ali frequentavam.
Após um dia cheio e extremamente produtivo, um cidadão grego daquela época só precisaria de mais um lugar para frequentar na acrópole antes de retornar para sua casa, e este era o anfiteatro. Um local projetado a aproveitar-se da acústica natural da região, com corredores e arquibancadas que desciam até um epicentro circular, onde os hipócritas (artistas) utilizavam-se do drama e da comédia para encenar peças que muitas vezes eram usadas para entreter e conscientizar a sociedade. Muitos destes hipócritas definiram pensamentos e moldaram opiniões sobre líderes, um grande nome como Aristófanes, por exemplo, utilizava-se de suas peças para debochar de Péricles, um grande líder ateniense. Nestes locais nascia-se a arte, a comédia, a dramaturgia, o entretenimento que muitas vezes nos alivia e alegra, muitas lendas e mitos foram propagados pelos ares, as histórias de Teseu, de Aquiles, Perseu, os deuses e entre outros grandes épicos, além claro, das grandes peças que foram se moldando ao pensamento mais racional que se utilizava de problemas dos próprios cidadãos ao seu redor para fazer arte.
“Em um Estado ideal as leis são poucas e simples, pois se baseiam em certezas. Em um Estado corrupto as leis são muitas e confusas, pois se baseiam em incertezas”
(Sólon de Atenas, 584 a.C.)
DAS RELAÇÕES ENTRE SI
Comumente em sua sociedade, os gregos tinham por costume o de questionar e trocar entre si suas ideias, valorizavam muito a capacidade de cada indivíduo em ter ideias brilhantes. A valorização de um único cidadão era algo muito recorrente aos gregos, eles valorizavam estes nomes e honravam os legados deixados por tais pessoas, por isso temos tantos nomes famosos gregos lembrados até hoje. A cultura de criar lendas e exaltar aqueles que se sobressaem na sociedade claramente não é exclusiva deles, mas sinto que por costume cultural eles o faziam, mesmo que inconsciente, no momento em que se proclamavam filhos de algum herói específico, nas ágoras quando Platão honrou os ensinamentos de seu mestre Sócrates e fora através das escritas deste aprendiz deixadas em seus papéis que soubemos quem fora seu mestre e o tão conhecido pai da filosofia. A tradição esportista também vem desta cultura, a competição, a disputa pelo destaque, a rivalidade entre seus iguais demonstra e sustenta a busca pelo holofote e a glória que percorria o pensamento da época. Também podemos concluir que certas pessoas na sociedade eram extremamente faladas e estavam diariamente tendo que provar sua integridade e caráter, para a valorização do mito que se criou em cima dele. Os gregos foram os grandes pensadores sobre as virtudes, então provavelmente estes eram os primeiros a se observar e julgar reciprocamente sobre seus feitos e sua importância. Com tal mentalidade nós podemos chegar ao estudo de sua hierarquia social, a relação de poder entre eles e como ela era definida: Eupátridas, Metecos e Escravos.
Para podermos chegar nessa análise vale ressaltar que estou me utilizando da cidade de Atenas, a mais famosa entre as cidades gregas. Em Atenas os eupátridas eram homens que possuíam um certo grau social, sendo os cidadãos da cidade e aqueles que tinham direito ao voto e a voz política nas ágoras. Para tal, estes tinham que ter certa quantidade de terras a seu domínio e ter nascido na cidade. As mulheres e crianças não possuíam o direito político, por isso não eram considerados eupátridas. Os metecos eram estrangeiros (xenos) que viviam na cidade e de certa forma auxiliavam no crescimento dela, pessoas como Heródoto de Halicarnasso, viajou e auxiliou para o engrandecimento da cidade de Atenas. Já os escravos eram aqueles que não tinham direito a nada, eles eram posse de alguém e a eles deviam seu respeito. Estes muitas vezes eram escravizados por dívidas ou por serem sobreviventes de guerras.
Agora que compreendemos a hierarquia da sociedade podemos entender e enxergar melhor a mentalidade que percorria por entre eles, o mundo era movido pelos homens e entre estes homens, apenas aqueles que nasciam em suas cidades poderiam determinar o futuro dela, assim como apenas estes poderiam escolher o rumo para as suas vidas e suas famílias. O papel da mulher era extremamente a margem da sociedade ateniense, por exemplo, lá o amor era entre os homens, apenas um homem poderia amar o outro, a mulher não despertaria tal sentimento neles, sendo exclusivamente utilizada para fazer nascer seus filhos e guerreiros que estes futuramente iriam ser o futuro da cidade. Muitas mulheres ficavam com o papel de cuidar de suas casas, tecer os bons tecidos para suas famílias e apenas isso. Claro que subjetivamente não é difícil imaginar uma mulher moldando todo um pensamento de seu marido para que este torne a vida dela e de seus filhos melhor. Aproveitando-me de ter mencionado a homo afeição entre os homens gregos busco detalhes de um texto já escrito por mim: “Das abordagens pedagógicas nas aulas de história” onde enfatizo o uso da disciplina de história para debatermos temas que a sociedade contemporânea não está pronta para tal. O amor grego entre homens é um dos exemplos mais claros sobre isso, por muito vemos uma luta ideológica entre o direito de amar alguém do mesmo sexo, mas vejam que a séculos atrás uma sociedade rica em conhecimento, berço de todas as civilizações ocidentais que hoje são as mais fechadas para a liberdade do amor, não viam como um tabu, na verdade, era culturalmente aceito entre eles e puro.
Para o próximo pensar:
Veremos sobre as Guerras Médicas, o conflito entre o mundo grego e o mundo persa. Uma guerra determinante para o futuro da sociedade grega e para toda a história ocidental.
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