Uma das coisas que ainda não relatei neste meu local de ensaios, resenhas e estudos é sobre minha cidade. Nasci na cidade vizinha, Santos, entretanto vivi e vivo minha vida na primeira vila do Brasil, São Vicente e ressalvo aqui um pouco do que conheço de sua vasta história. Tais escritas não são tão fáceis de encontrar, atualmente enquanto escrevo isso a Prefeitura da cidade tem realizado um movimento de renascimento cultural e histórico, algo que facilitou um pouco a empolgação para buscar tais conhecimentos, e com a atualização do site da própria dá para ter um bom resumo de tantas coisas que a cidade já enfrentou logo no começo de sua formação. Então vamos embarcar na cidade que em um passado foi uma das mais importantes para a coroa portuguesa e para o Brasil.
Suas Origens
Fundada no dia 22 de janeiro de 1532, pelo capitão-mor Martim Afonso, está cidade possui uma origem discutida a tempos por historiadores, entre estas discussões salvo ressaltar sobre a legitimidade como a primeira vila, sobre sua real data de fundações e entre outras questões não tão acadêmicas e mais de senso comum, porém isso é algo presente em toda civilização afinal. O que sabemos sobre sua formação é graças a pessoas dedicadas a registrar e pesquisar sobre suas origens, destes nomeio Frei Gaspar da Madre de Deus, Pedro Taques de Almeida e Benedito Calixto, que este último chegou até mesmo a realizar mapas deduzindo sobre questões levantadas pelos anteriores.
Em 1531, desatraca o capitão-mor Martim Afonso de Souza, fidalgo e um homem prestigiado pelo rei D. João III, com a missão de fundar a primeira colônia oficial portuguesa, com intuito de cultivar e cuidar das terras brasileiras. Seguindo pelo caminho antes cruzado por Pedro Alvarez, Martim Afonso alcança a região do Rio de Janeiro e não vê ali local para sua colônia, então o fazendo seguir ao sul e encontrar à terra cujo ele identificou como a própria para si, a vila de São Vicente fora fundada em 22 de janeiro de 1532, como mencionada anteriormente, ao serem levantados o pelourinho, a igreja matriz e a câmara. Porém, como relatado por Frei Gaspar em seu Livro “Memórias para a história da Capitania de São Vicente” em seu tempo havia discussões sobre a legitimidade de sua fundação, sendo como a primeira e a maior das capitânias, estando nesta disputa a de Pernambuco, que só fora fundada em 1537 no povoado de Olinda por Duarte Coelho; e a de Espírito Santo, fundada em 23 de maio de 1535 por Vasco Coutinho.
Porém, a oportunidade de conquistar estas terras não foram tão fáceis como imaginam ser, mesmo que com inteira permissão de D. João III, Martim Afonso e todos que lhe acompanharam deviam arcar com as despesas para toda a viagem e a fundação, só para então fazerem vida e ganharam lucros com seus engenhos e produções, o próprio capitão Martim arrecadava seus lucros através de taxas e impostos cobrados pelos seus gestores públicos da colônia e das produções dos engenhos, pescados e tráficos nos rios.
Seu povoamento ocorreu conforme planejado, porém, também afirmado pelo Frei, sua população não teria tomado bom proveito das terras, devida ao anseio por povoar outros lugares, a má administração e ganância levou a fundação da vila de Alaguna em Santa Catarina por Domingos de Brito Peixoto, sendo este natural de S. Vicente, entretanto, tais atos levaram a capitânia a tornar-se a maior entre todas as outras, suas fronteiras chegaram a regiões que hoje conhecemos como Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, S. Paulo e Rio de Janeiro. Tendo como subalternos Santa Catarina e Rio Grande de S. Pedro.
Um pouco de Aventura para a cidade de São Vicente
A vila é cercada por mitos e fontes não identificadas e sem cunho de prestígio acadêmico que deduzem uma hipótese para uma misteriosa menção nos relatos de Frei Gaspar ao informar sobre o local por onde aportavam as naus na região de São Vicente, este afirma "logo que os navios, quando aqui assistiu o primeiro Donatário, entravam pela terceira barra, e ancoravam junto à Vila de S. Vicente." onde chamam de Porto do Tumiaru, nesta hipótese havia uma geografia diferente na região, algo que faria com que a fama do Porto das Naus tivesse real confirmação, devida a entrada estratégica para tal. Nesta teoria, a região que interliga Japuí e Praia Grande, atualmente, eram separadas, formando a terceira barra de São Vicente. Entretanto, devido ao forte maremoto que atingiu a cidade em 1541, teria não só destruído a primeira vila de S. Vicente, mas também alterado o nível do mar da região, fazendo com que Japui e o pedaço de terra que interliga Guaíbe e Praia Grande surgisse. Se Tal teoria pudesse ser comprovada por estudos na área de geografia (talvez) poderia explicar a fraqueza da importância do porto das naus e o avanço do porto da cidade vizinha de Santos.
Há relatos de que no século XVI, São Vicente e Santos tinham uma população de oitocentos colonos europeus e mais de três mil
índios, possuindo, em meados de 1580, cinco grandes engenhos em São Vicente, em grande maioria de Canavieira, porém também se plantava arroz, trigo e junto as criações de gados, aves e caprinos, trazidos da Europa. Nesta época já se utilizavam o porto de Santos, conhecida pelos indígenas como Enguaguaçu. Em 1591 São Vicente encontrou outro desafio perante sua fundação, um
corsário inglês chamado Thomas Cavendish almejava seguir os passos de Francis Drake e ser alguém até mesmo mais glorioso, chegou a região de Santos enquanto realizavam uma missa de Natal e aproveitou para realizar pilhagens na cidade e junto aproveitou para queimar e saquear os engenhos de açúcar a caminho de São Vicente, ato este que destruiu boa parte do vilarejo conforme indica Teodoro Sampaio nas peregrinações de Anthony Knivet no Brasil no século XVI na Revista do instituto Histórico, 2º tomo especial, primeiro congresso de história nacional no ano de 1914 e 1915.
Conclusões
Atualmente a cidade é consagrada com pontos históricos importantes como a Biquinha de Anchieta, o Porto das Naus, Marco Padrão, Casa de Martim Afonso e a Réplica da Vila de São Vicente, bem em frente a Igreja com mais história na cidade, a famosa Matriz de São Vicente. Na cidade passou nomes importantes para Portugal como o próprio Martim Afonso de Souza, Brás Cubas, Frei Gaspar. Além de receber consagrações importantes como as homenagens de Portugal, a cidade e grandes artistas como Benedito Calixto e o brilhante Oscar Niemeyer com o monumento de 500 anos do descobrimento, conhecida como Mirante. Localizada no litoral do Estado de São Paulo, Região Metropolitana da baixada santista.
Se a vila de São Vicente não for importante historicamente para a formação da cidade de São Vicente, eu sinceramente não sei o que seria então, tendo em vista as honrarias dadas pela coroa portuguesa e tantos nomes que repercutiram pelo ao redor desta cidade, acredito serem provas mais que suficientes para tal importância. Levo comigo uma leve tristeza ao saber a falta de importância deixada pelos cidadãos da cidade no apreço a sua história, anos de negligência levaram a cidade a ser esquecida e pouco prestigiada, porém, não deixo de me questionar sobre o impacto que uma população poderia ter feito para que mesmo durante uma má administração a cidade pudesse florescer e ainda ser lembrada pelo seu legado histórico rico e emocionante, um berço para o Brasil e uma história digna das navegações.
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Referências bibliográficas:
Leme, Pedro Taques de Almeida Pais, 1714-1777. História da capitania de São Vicente / Pedro Taques de Almeida Pais Leme ; com um escorço biográfico do autor por Afonso de E. Taunay. Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. (Edições do Senado Federal; v. 25)
Gaspar da Madre de Deus. Memórias para a história da Capitania de São Vicente / Gaspar da Madre de Deus. -- Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2010.
Paulo Edson e John Milton, Thomas Cavendish, O Corsário de Ilha Bela / O manuscrito do corsário Thomas Cavendish que em 1591 se refugiou em ilhabela e saqueou a vila de santos. eBook Kindle
História de São Paulo Colonial [livro eletrônico] / Maria Beatriz Nizza da Silva (org.)...[et al.]. - São Paulo: Editora UNESP, 2009.
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